Dados da Rais, que trazem um mapa completo do trabalho no país, revelam um pequeno avanço na redução da desigualdade racial, mas inclusão ainda é um desafio
Dados da Rais divulgados no início de outubra revelam que em 2017 houve um avanço na contratação de pretos e pardos no país em comparação a 2016. O destaque ficou com o nível superior (completo e incompleto), no qual a participação cresceu 8,6% e 2,9%, respectivamente. Na mesma faixa de escolaridade ocorreu um aumento de 0,1% da mão de obra branca.
Os dados, apesar da relação ainda perversa entre raça e empregabilidade, indicam que políticas de inclusão, como a reserva de cota nos programas de estágio em instituições públicas, podem a longo prazo reduzir tantas diferenças. Os últimos dados divulgados em 30 de outubro pelo ministério do Trabalho vêm da Relação Anual de Informações Sociais, que apresenta um panorama detalhado sobre trabalho no Brasil.
O mapeamento do trabalho no Brasil da Rais mostra um avanço na diminuição da desigualdade racial nos postos de trabalho, de acordo com o ministro Caio Vieira de Mello. “Estamos trabalhando para que esse tema seja prioritário em nossa pasta. É fundamental que a mão de obra brasileira seja qualificada e tenha oportunidade de atuação, independentemente dos critérios de raça e cor”, disse ele ao divulgar esses resultados da Rais 2017.
Em relação ao ensino médio (completo e incompleto), a Rais também apresentou um crescimento no número de vínculos formais de trabalhadores pretos (4,3%) e pardos (1,9%). No entanto, o maior avanço nesse nível de escolaridade foi percebido na modalidade raça/cor indígena, com um crescimento de 5% na comparação com os dados de 2016. Já nas categorias branca e amarela, a análise apontou uma redução nas contratações, de -1,6% e -4,8%, respectivamente.
Entre as regiões com o maior número de contratações de pretos e pardos está a Sudeste, com 6,7 milhões. Os setores com maior representatividade da mão de obra foram Serviços (6.289.889), Comércio (3.529.199) e Indústria de Transformação (2.433.256).
Quanto aos indígenas, a maioria das contratações também ocorreu na região Sudeste, com 32.644 pessoas, e nos mesmos setores: Serviços (38.556), Comércio (14.331) e Indústria de Transformação (10.999).
O documento da Rais traz informações sobre todos os empreendimentos formais do país, desde aqueles sem nenhum funcionário até empresas com milhares de empregados. A partir dos dados da Rais é obtido o perfil das empresas e dos trabalhadores brasileiros, que serve para a elaboração de políticas públicas de emprego e para o pagamento de benefícios.
Os dados da Rais são referentes a 2017 e não são utilizados como referência de estatísticas de desemprego no país, que no segundo semestre deste ano atingiu 12,2% da população economicamente ativa. Mas continua mais elevada entre negros (15%) e pardos (14,4%) em comparação aos brancos (9,9%).
Cor ainda é barreira, mesmo com 52% de negros e pardos
Mais da metade da população brasileira é negra. São 52% os que se declaram pretos ou pardos, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013. Mas a cor ainda é uma barreira para progressão em carreiras e também no ambiente acadêmico, como revelaram indicadores dessa mesma pesquisa do Pnad – dos 387,4 mil alunos de mestrado ou doutorado à época, apenas 112 mil eram negros contra 270,6 mil brancos.
Dados do ministério do Trabalho divulgados este ano começaram a indicar mudanças que podem estar relacionadas, por exemplo, aos efeitos positivos dos 15 anos de cota racial nas universidades públicas, já que entre 2008 e 2016 aumentou em dez pontos percentuais a presença de profissionais negros em vagas que pedem ensino superior.
Beth Barra, jornalista para o blog da MCD
(Imagem: Pixaby)