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Síndrome de Burnout, um mal quase silencioso, que pode ser evitado

Medicina do trabalho pode criar estratégias de prevenção e enfrentamento do distúrbio em parceria com as empresas; entenda como doenças psiquiátricas impactam a economia

14 de setembro de 2018

A exaustão mental e sintomas físicos relacionadas à Síndrome de Burnout foram intensificadas com o desenvolvimento da tecnologia, novas demandas por desempenho e carga horária excessiva

A Síndrome de Burnout, distúrbio descrito em 1974 pelo psicanalista norte-americano Hebert Fraudenberge, e reconhecida pela OMS e a legislação brasileira como doença ocupacional, é um esgotamento causado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. A doença, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, provoca alterações psicossomáticas, como dores musculares, dor de cabeça, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, crises de asma, distúrbios gastrintestinais e também mentais – depressão, ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração, agressividade, isolamento social, insônia.

O esgotamento ocupacional é também um mal silencioso e subnotificado, já que muitas vezes o diagnóstico é dificultado pelo próprio trabalhador, que esconde os sintomas para preservar o emprego. Embora seja considerada uma doença contemporânea, alguns estudiosos consideram que a Síndrome de Burnout nasceu com a Revolução Industrial.
No século XVIII a luta era para sobreviver em ambientes insalubres e jornadas exaustivas, que chegavam a mais de 12 horas por dia; hoje esse ‘alerta vermelho’ atinge trabalhadores de diversas categorias e as taxas de desemprego podem aumentar os casos da doença. A cobrança por resultados e o próprio desgaste da profissão, podem levar à doença, que se instala lenta e gradualmente.

Estudo da International Stress Management Association (Isma) alertou que no Brasil 30% dos profissionais sofriam da doença entre 2013 e 2014, levando ao aumento do presenteísmo – quando a pessoa está fisicamente presente ao trabalho, mas não consegue exercer plenamente suas atividades. A crise econômica e a automação do trabalho, que impactam diretamente na saúde da pessoa, podem aumentar os casos de Síndrome de Burnout.

Em 2016, de acordo com registros divulgados pela Previdência Social, 199 mil pessoas foram afastadas do trabalho por depressão, ansiedade, estresse, transtorno bipolar, esquizofrenia, outros transtornos mentais relacionados ao consumo de álcool e/ou drogas e pela Síndrome de Burnout, doença que pode levar a aposentadoria por invalidez.

A síndrome do esgotamento profissional, como outras doenças psíquicas e/ou psicológicas, tem diagnóstico complexo, nem sempre referendado na perícia da Previdência Social. A justiça costuma ser o caminho para que as pessoas que perderam completamente a capacidade laboral consigam se aposentar, já que os peritos nomeados pelo Poder Judiciário costumam ser mais criteriosos e precisos ao avaliar o trabalhador.

Os casos de Síndrome de Burnout costumam também ser subnotificados, enquanto as Normas Regulamentadoras de Saúde e Segurança do Trabalho não contemplam especificamente a doença, mas várias delas ajudam as empresas de medicina do trabalho a criarem estratégias em parceria as organizações que atendem para o enfrentamento dessa e de outras doenças ocupacionais, entre elas:

NR 17 – Norma Regulamentadora com o objetivo de ‘estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho’

NR7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) – Exigência de exames médicos periódicos, admissionais e demissionais, identificação de fatores de riscos ambientais que possam causar acidentes ou epidemias

NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – Obrigatoriedade de criação da CIPA, que tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador

Tecnologia, demanda por desempenho e carga excessiva

A exaustão mental e sintomas físicos relacionadas à Síndrome de Burnout foram intensificadas com o desenvolvimento da tecnologia, novas demandas por desempenho e carga horária excessiva, como ocorre entre bancários, médicos, enfermeiros, cuidadores de idosos e professores, muitas vezes obrigados a trabalhar mais de 60 horas semanais para sobreviverem da profissão. A doença atinge também profissionais em cargos de chefia ou supervisão pela dificuldade de delegar tarefas ou mesmo pela própria ambição de carreira. Assim como os workaholics, pessoas inseguras ou que precisam excessivamente de aprovação podem ser vítimas desse mal.

Foco em bem-estar e na saúde mental

O bem-estar e saúde do trabalhador impactam positivamente nas empresas e na Previdência Social. Quanto menos absenteísmo (afastamento do trabalho), acidentes, doenças e conflitos, mais produtividade e o resgate do trabalho como fator protetivo, pertencimento, cidadania. As empresas de medicina do trabalho podem criar estratégias de prevenção e enfrentamento da Síndrome de Burnout e outros distúrbios psíquicos ao investir em programas de promoção da saúde mental, que pode incluir a avaliação biopsicossocial do colaborador, sempre respeitando a privacidade da pessoa ou do grupo envolvido.

A avaliação psicossocial investiga ainda como a pessoa se sente sobre o trabalho, a empresa, seus projetos, dificuldades, relacionamentos no ambiente laboral e fora dele. Esta visão integralizada e humanizada do trabalhador permite às empresas de saúde e segurança traçar estratégias em parceria com as organizações para que o trabalho retome seu lugar de elemento de bem-estar e qualidade de vida.

Empresas que adotam condutas com foco no bem-estar dos colaboradores costumam ser mais produtivas. Pesquisa do Center Organizational Scholarsphi, da Universidade da Califórnia (EUA) revelou que o trabalhador feliz é em média 31% mais produtivo, a criatividade nessas organizações é três vezes maior, sendo que 46% dos 1.220 empregados do estudo mostraram mais satisfação com a atividade em diferentes setores.

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